Fonte: Benatti
Remodelação óssea
Como estrutura de suporte do corpo humano, o esqueleto é remodelado durante toda a vida por um sistema bem coordenado de dois tipos de células: os osteoclastos e os osteoblastos. Os osteoclastos reabsorvem o osso velho enquanto os osteoblastos são responsáveis pela formação de novo osso nas áreas reabsorvidas. Todo esse sistema funciona em ciclos, de modo que todo o esqueleto é continuamente renovado enquanto a integridade estrutural não é afetada. O ciclo de remodelação óssea é sintonizado pelos osteoblastos e consiste em uma série complexa de eventos celulares e moleculares diretamente ligadas a hormônios, citocinas e fatores de crescimento.
A movimentação dos dentes
Aproveitando-se deste sistema bem sintonizado, a ortodontia e a ortopedia facial conseguem mover dentes e conformar arcos dentários através do tratamento ortodôntico. Através da manipulação e aplicação de cargas mecânicas no tratamento ortodôntico, é possível criar mudanças nesse sistema, prevendo, assim, sua resposta biológica e alcançando o efeito terapêutico desejado.
Os dentes se movimentam durante o tratamento ortodôntico devido ao fato do osso alveolar, isso é, o osso onde estão inseridos os dentes, poder se remodelar. Fios e bráquetes exercem forças no dente, que por sua vez são transferidas aos tecidos periodontais (fibras e tecidos de suporte que se encontram entre as raízes dos dentes e o osso). Essas células respondem através de uma série de ativações a nível molecular, promovendo a remodelação óssea, que finalmente resultam na movimentação dentária planejada no tratamento ortodôntico. Por isso é muito importante compreender os níveis de forças aplicados e o processo de reorganização celular e remodelação da estrutura óssea e periodontal ao redor dos dentes, a fim de alcançar o movimento dentário desejado e planejado durante o tratamento ortodôntico.
A ação do aparelho dentário no tratamento ortodôntico
O aparelho dentário no tratamento ortodôntico age nos dentes através dos ligamentos periodontais e do osso alveolar, circundante ao dente. Esse tecido, encontrado unicamente nesta região, insere o dente ao osso alveolar. Em certo sentido, ele serve como um meio de comunicação entre os dentes e o osso alveolar. Ele é também responsável por diversas funções como a mastigação, a deglutição e a informação proprioceptiva (sensibilidade de tato que os dentes apresentam e que nos ajuda a discernir quanta força exercemos na mastigação, assim podemos diferenciar entre um grão de gergelim e uma carne mais dura.). Esse tecido, altamente especializado, é o fator fundamental para a movimentação dos dentes durante o tratamento ortodôntico. Dentes anquilosados (que perderam os ligamentos periodontais) não podem ser movimentados no tratamento ortodôntico. Os implantes dentários não podem ser movimentados no tratamento ortodôntico, pois não apresentam o ligamento periodontal devido à osseointegração. Quando forças são aplicadas aos dentes, através de diversos dispositivos, sejam bráquetes, fios, elásticos ou aparelhos removíveis, o ligamento periodontal é estendido de um lado e comprimido do outro. A força exercida sobre ele promove a ativação dos osteoclastos e osteoblastos que, por sua vez, reabsorvem o osso na região de compressão e promovem a nova formação óssea na porção estendida, respectivamente. Esse fenômeno biomecânico que é responsável pela movimentação dos dentes no tratamento ortodôntico.
Todos nós sabemos que a aparência pessoal é muito importante, principalmente a aparência dos dentes e do sorriso. Durante os anos de formação, quando criança ou durante a fase da adolescência ela é especialmente importante, pode afetar a autoestima, onde ela é mais vulnerável a atenção dos amigos e da sociedade. Adultos que não realizaram um tratamento ortodôntico podem apresentar a mesma preocupação com a sua aparência. O desenvolvimento social e até de uma carreira profissional são afetadas frequentemente pelo o que pensamos de nós mesmos e como a sociedade nos enxerga. Até mesmo a fala e a dicção podem ser afetadas por dentes mal posicionados. Dentes mal posicionados ocasionam uma maior dificuldade na higienização bucal o que por sua vez aumentam a susceptibilidade a carie e o desenvolvimento de doenças da gengiva, como a gengivite. Além disso, o mau posicionamento dos dentes ocasiona uma distribuição inadequada das forças de mastigação. Esta distribuição desequilibrada poderá provocar dores de cabeça, no pescoço e principalmente na articulação têmporo mandibular. Além disso, este desequilíbrio tem o grande potencial de desgaste prematuro da estrutura dentaria, diminuindo a longevidade dos dentes.
Aparelho Dentário – Muito mais do que dentes alinhados
Os dentes não devem apenas ser alinhados e corrigidos, eles devem combinar naturalmente com a face. Por isso, o tratamento ortodôntico pode muitas vezes não se restringir apenas ao uso de um tipo de aparelho, o aparelho dentário. O tratamento ortodôntico pode ir muito além do uso do aparelho dentário.
A especialidade do tratamento ortodôntico contemporâneo tem como objetivo ir além da correção dentaria. Ele também deve contemplar resultados faciais como proporção entre o terço médio e inferior da face, harmonia entre altura e largura da face, a relação e a proporção entre os lábios superior e inferior e a curvatura que eles apresentam. É também levado em consideração o quanto de dente é exposto com os lábios relaxados e durante um sorriso, o quanto de gengiva é exposta com os lábios relaxados e durante um sorriso. Se os lábios fecham de forma natural, sem exigir uma forca muscular excessiva, e até mesmo a projeção do nariz em relação à face.
Por isso a importância de um especialista. Cabe ao ortodontista uma avaliação completa, não somente dentaria do paciente, mas de toda a sua face, levando em conta a variação individual de cada paciente e a sua aceitação psicológica frente aos resultados dentários e faciais desejados.
Tratamento ortodôntico e a sua repercussão na face
Muitas pessoas não percebem, no entanto a porção inferior da face (lábios e queixo) é grandemente afetada pela posição dos dentes. Lábios excessivamente proeminentes ou com ausência de fechamento pode ser apenas um sinal de que os dentes ou até mesmo as bases ósseas (maxila e mandíbula) não estão bem posicionadas. Isto vale tanto para o paciente infantil, adolescente e adulto. O crescimento e a futura posição dos ossos da face, dos dentes e dos lábios, isto é, o perfil facial como um todo é afetado pela genética. Qualquer tratamento ortodôntico certamente produzira efeito sobre estas estruturas e suas posições. Portanto é muito importante que o especialista planeje quais mudanças são desejadas e quais mudanças devem ser evitadas, de modo a obter um resultado satisfatório para o paciente. Por outro lado o paciente deve ter expectativas realistas e aceitação psicológica dos resultados desejados.